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Sistema de utilização e tratamento de dejetos suínos

Quarta-feira, 11 de Janeiro de 2012

Os produtores, de uma forma geral, preferem os “adubos químicos”, face a menor necessidade de investimentos e maior facilidade de manejo quando comparado ao orgânico. Além disso, no caso dos dejetos, o grande volume produzido na granja, o relevo acidentado e a reduzida área para lavouras, dificultam o seu aproveitamento como adubo. Por outro lado, os investimentos para viabilizar a sua utilização, a exemplo de tratores e tanques distribuidores, geralmente estão muito acima da capacidade de endividamento dos pequenos e médios criadores, levando-os ao despejo contínuo na natureza.


O lançamento indiscriminado de dejetos não tratados em rios, lagos e no solo, no entanto, podem provocar doenças (verminoses, alergias, hepatites, hipertensão, câncer de estômago e esôfago). Além disso trazem desconforto à população (proliferação de moscas, borrachudos, maus cheiros) e, ainda, a degradação do meio ambiente (morte de peixes e animais, toxicidade em plantas e eutrofização dos recursos de água). Constitui-se, dessa forma, um risco para a sustentabilidade e expansão da suinocultura como atividade econômica.


Com o aprofundamento das reflexões em torno do meio ambiente, os consumidores começam a dar preferência por bens e produtos criados em ambientes corretos. Os agentes financeiros não querem e não se sensibilizam mais com empreendimentos ambientalmente incorretos e a própria sociedade vem exigindo ações específicas dos órgãos competentes para a adoção de medidas de tratamento dos dejetos e punição aos suinocultores infratores. Portanto, deve-se buscar opções para ajustar os criadores rapidamente a essas normas emergentes, onde os rótulos ecológicos e o impacto ambiental ocupam lugar de destaque.


O desafio

De acordo com o pesquisador Carlos Perdomo, da EMBRAPA-Suínos e Aves, de Concórdia-SC, “as quantidades de dejetos podem ser reduzidas através de uma diminuição do desperdício de água (bebedouros, água de limpeza) nas criações”. Mas ele alerta que “sem mecanismos adequados de tratamento, armazenagem, transporte e distribuição eficiente, não há como materializar as vantagens propagadas do uso agronômico das dejeções animais para a melhoria das condições biológicas, física e químicas do solo”. Perdomo enfatizou a importância de os produtores terem consciência da sua responsabilidade e adotarem estratégias de utilização (maximizar o uso agrícola) e tratamento dos dejetos (reduzir a taxa de coliformes para 1% e não conferir aos cursos de água características em desacordo com os critérios e padrões de qualidade das águas especificadas pela legislação em vigor) em níveis compatíveis com a sua realidade econômica.


Um sistema combinado

Um dos problemas para a viabilização da adubação orgânica é a alta diluição dos dejetos suínos na água. É necessário reduzir o volume a ser destinado à lavoura (visando diminuir os custos de armazenagem, transporte e distribuição) e aumentar a concentração de nutrientes por unidade de volume. No entanto, em termos de poluição, ainda são considerados muito concentrados, o que encarece os processos de tratamentos posteriores. Nessas condições - explica o pesquisador - , sugere-se introduzir uma etapa preliminar (separação de fases) para agregar maior valor agronômico e adequar os dejetos aos processos de tratamento).


O sistema proposto foi desenvolvido pela EMBRAPA Suínos e Aves e pela Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, para atender uma granja com cerca de 40 matrizes em ciclo completo (cerca de 3 metros cúbicos de dejeções líquidas por dia e com 19 419 mg/l de sólidos totais, 2 337 mg/l de nitrogênio, 660 mg/l de fósforo, 900 mg/l de potássio e 13 500 mg/l de DBO5 e taxa de coliformes fecais de 5,08 x 108). Segundo Perdomo, esse sistema consiste no uso combinado de decantador, lagoas anaeróbias, facultativas e de aguapé e apresenta grande eficiência, baixo custo de investimento e fácil operacionalidade. O custo de cada unidade, computando-se todo o serviço de limpeza do terreno, movimentação de terra, compactação, impermeabilização e mão-de-obra é de R$125,00 por m2 de decantador e R$13,00 por m3 de lagoa. Ou seja, um total de R$5.500,00 (R$141,00/matriz instalada), computando-se todos os custos do projeto.


Separador de fases

A escolha de um decantador de palhetas para realizar a separação das fases sólida e líquida dos dejetos deve-se a sua boa eficiência, baixo custo e fácil operacionalidade. Sua função é importante, não só para redução do volume, remoção da carga orgânica e de nutrientes, diminuição do mau cheiro mas, também, para evitar o assoreamento das lagoas. A parte sólida (lodo) representa 15% do volume total de dejetos e será destinada ao uso como fertilizante.


O decantador retira dos dejetos brutos cerca 48% dos sólidos totais, 40% da carga orgânica (DBO5), 16% do nitrogênio e 39% do fósforo total, mantendo a mesma concentração de potássio e uma eficiência de remoção de coliformes fecais de 27%. O volume de lodo produzido é de 0,45 m3/dia. Isso significa que a carga orgânica e de nutrientes que sai do decantador ainda continua elevada (8 029 mg/l de DBO5, 10 006 mg/l de sólidos totais, 1 954 mg/l de nitrogênio e 402 mg/l de fósforo total) e precisa de tratamento.


A concentração média de NPK por m3 de lodo é de 4,98 Kg de fósforo, 1,1 de potássio e 3,2 de nitrogênio, ou seja, 9,2 Kg de N-P2O5-K2O por m3 de lodo. Isso representa um aumento de concentração de nutrientes 30% superior ao dos dejetos brutos.


Para um rebanho de 40 matrizes em ciclo completo, a quantidade anual de NPK existente no lodo representa 31 sacos (50 Kg) de adubo químico (16 de superfosfato triplo, 4 de cloreto de potássio e 11 de uréia). Utilizando um tanque distribuidor de 4 000 l, seriam necessárias 41 viagens à lavoura com 37 Kg de N-P2O5-K2O por tanque . Mas com dejetos brutos, seriam 274 viagens carregando 26 Kg de N-P2O5-K2O por tanque. O depósito para armazenar o lodo, deve ser dimensionado de acordo com a necessidade de cada produtor.


Lagoas anaeróbias

A principal função das lagoas anaeróbias é reduzir a carga orgânica e facilitar os tratamentos subsequentes. Sua vantagem é a de exigir menor área superficial, mas exige uma profundidade adequada para obter boa eficiência.


Lagoa anaeróbia 1: com base na vazão diária dejetos (3 m3) e num tempo de detenção hidráulico de 35 dias, estimou-se ser necessário uma lagoa com volume de 106 m3.


A lagoa anaeróbia 1 remove dos dejetos oriundos do decantador, cerca de 51% dos sólidos totais, 80% da carga orgânica (DBO5), 28% do nitrogênio e 70% do fósforo total e 97,7% de coliformes fecais. A carga orgânica e de nutrientes que sai da lagoa, ainda que atenda às exigências da legislação ambiental de Santa Catarina, continua elevada (1 541 mg/l de DBO5, 4.888 mg/l de sólidos totais, 1.411 mg/l de nitrogênio e 120 mg/l de fósforo total) e precisa de tratamento. Sugere-se uma segunda lagoa anaeróbia, uma vez que a carga orgânica ainda é elevada.


A eficiência combinada do decantador e da primeira lagoa anaeróbia é de remoção de 75% dos sólidos totais, 89% da carga orgânica (DBO5), 40% de nitrogênio e 82% do fósforo total.


Lagoa anaeróbia 2 : com base na vazão diária de dejetos (3 m3) e num tempo de detenção hidráulico de 46 dias, estimou-se ser necessário uma lagoa com volume de 137 m3 .


A lagoa anaeróbia 2 remove dos dejetos oriundos da primeira lagoa, cerca de 27% dos sólidos totais, 64% da carga orgânica (DBO5), 29% do nitrogênio e 44% do fósforo total e 97,5% de coliformes fecais. A carga orgânica e de nutrientes que sai da lagoa, ainda que atenda às exigências da legislação ambiental de Santa Catarina (em termos de remoção percentual), continua elevada (674 mg/l de DBO5, 3 436 mg/l de sólidos totais, 982 mg/l de nitrogênio e 60 mg/l de fósforo total) e precisa ainda de tratamento. Como a carga orgânica é mais leve, sugere-se uma lagoa facultativa.


A eficiência combinada do decantador e das duas lagoas anaeróbias é de remoção de 82% dos sólidos totais, 95% da carga orgânica (DBO5), 58% de nitrogênio e 91% do fósforo total.


Lagoa facultativa

As lagoas facultativas são indicadas para águas residuárias brutas que já tenham recebido algum tratamento anterior. Com base na vazão diária de dejetos (3 m3) e num tempo de detenção hidráulico de 24 dias, estimou-se ser necessário uma lagoa com volume de 73 m3.


Efluente líquido: a lagoa facultativa remove dos dejetos oriundos da lagoa anaeróbia 2, cerca de 42% dos sólidos totais, 42% da carga orgânica (DBO5), 57% do nitrogênio e 29% do fósforo total e 97,3% de coliformes fecais. A carga orgânica e de nutrientes que sai da lagoa, ainda que atenda às exigências da legislação ambiental de Santa Catarina, continua elevada (442 mg/l de DBO5, 2 097 mg/l de sólidos totais, 446 mg/l de nitrogênio e 44 mg/l de fósforo total) e precisa ainda de tratamento. Sugere-se uma lagoa de aguapé para a depuração final.


A eficiência combinada do decantador, das duas lagoas anaeróbias e da facultativa é de remoção de 89% dos sólidos totais, 97% da carga orgânica (DBO5), 81% de nitrogênio e 93% do fósforo total.


Lagoa de aguapé

As lagoas com aguapé constituem uma excelente alternativa de tratamento terciário para a remoção de nitrogênio e de dejetos, dada a sua grande capacidade de produção de biomassa e da ramificação de suas raízes.


Com base na vazão diária de dejetos (3 m3) e num tempo de detenção hidráulico de 20 dias, estimou-se ser necessário uma lagoa com volume de 58 m3.


Resultados obtidos em ensaio piloto, permitem estimar que a lagoa de aguapé remove dos dejetos oriundos da lagoa facultativa cerca de 45% da carga orgânica (DBO5), 31% do nitrogênio e 37% do fósforo total nas condições de inverno (crítica).


A eficiência combinada do decantador, lagoas anaeróbias e aguapé é de remoção de 98% dos sólidos totais, 99% da carga orgânica (DBO5), 94% de nitrogênio e 98% do fósforo total e 99,999% de coliformes fecais


Para Perdomo, esse sistema poderá atender às exigências da legislação dos órgãos de controle e fiscalização ambiental, no que tange a redução da carga poluente (DBO5), nutrientes, coliformes fecais e de emissão de um efluente que não altere as condições do meio receptor.


O pesquisador ainda chamou atenção para o fato de que esse sistema poderá ser aplicado a qualquer tamanho de rebanho, desde que devidamente adequado, dimensionado, à situação específica. Para isso, o produtor deverá procurar um técnico da área que desenvolva o seu projeto individual de utilização e tratamento de dejetos.

FONTE: Rural Soft

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